sexta-feira, 18 de junho de 2010

Ode ao gato

"(...) Ele só aceita uma relação de independência e afeto. E como não cede ao homem, mesmo quando dele dependente, é chamado de arrogante, egoísta, safado, espertalhão ou falso. "Falso", porque não aceita a nossa falsidade com ele e só admite afeto com troca e respeito pela individualidade. O gato não gosta de alguém porque precisa gostar para se sentir melhor. Ele gosta pelo amor que lhe é próprio, que é dele e ele o dá se quiser.

O gato devolve ao homem a exata medida da relação que dele parte. Sábio, é espelho. O gato é zen. O gato é Tao. Ele conhece o segredo da não-ação que não é inação. Nada pede a quem não o quer. Exigente com quem ama, mas só depois de muito certificar-se. Não pede amor, mas se lhe dá, então ele exige. Sim, o gato não pede amor. Nem depende dele. Mas, quando o sente, é capaz de amar muito. Discretamente, porém sem derramar-se. O gato é um italiano educado na Inglaterra. Sente como um italiano mas se comporta como um lorde inglês.

Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não transa o gato. Ele aparece, então, como ameaça, porque representa essa relação precária do homem com o (próprio) mistério. O gato não se relaciona com a aparência do homem. Ele vê além, por dentro e pelo avesso. Relaciona-se com a essência. Se o gesto de carinho é medroso ou substitui inaceitáveis (mas existentes) impulsos secretos de agressão, o gato sabe. E se defende do afago. A relação dele é com o que está oculto, guardado e nem nós queremos, sabemos ou podemos ver. Por isso , quando surge nele um ato de entrega, de subida no colo ou manifestação de afeto, é algo muito verdadeiro, que não pode ser desdenhado. É um gesto de confiança que honra quem o recebe, pois significa um julgamento. (...)" Ode ao Gato, de Arthur da Távola.

Absolutamente apaixonada por gatos. De todas as cores, de todos os tamanhos. Dos magricelos aos gorduchos. Se pudesse, adotava TODOS os que vejo caminhando pela rua. Feliz por ser acordada por miados safados que pedem comida logo cedo. Enebriada pela preguiça que me abate só ao ver uma bolinha de pêlo se engraçando no meu edredon. Orgulhosa por notar a exclusividade de carinhos que recebo. Paparicada quando estou doente. Amada em todos os momentos, mesmo quando ausente.

Isso é ter gatos na família. E só não são humanos porque são gatos. E são melhores assim.


[Ao som da narração de Eslovênia x EUA, pelo jogo da Copa do Mundo de Futebol 2010, na Rede Globo... uauuuuuu! Haha]

terça-feira, 15 de junho de 2010

É Gooool

Hoje é dia do Brasil. Na Copa do Mundo. Pelo menos hoje somos a notícia mais importante do dia e meio planeta Terra espera para ver a nossa bolinha correr pelo chão verde.

Hoje é dia em que o Brasil pára. Tudo fecha, menos os olhos. Grupos se aglomeram em volta da televisão. Casas e bares cheios. Ninguém quer perder aquilo que é o momento de glória do brasileiro. Estamos em meio a tríade: futebol, samba e mulher. Dá pra imaginar a festa, gringaiada?

Esse Brasil pára mais pela Copa do que pelo apagão. Um ópio consentido pelo povo. Por mais que você não goste desse ópio, é embriagado. O verde e o amarelo estão em todos os lugares: asfalto, janelas, camisetas, televisão, internet. Não há como fugir.

Já passei muita Copa do Mundo dormindo enquanto era acordada pelos gritos de GOOOLLL na madrugada. Já chorei pela vitória da Argentina. Todo brasileiro, algum dia, ficou feliz pelas nossas cinco taças.

Um brinde ao Brasil, meio sub-celebridade, meio ex-BBB, pelos seus cinco minutos de fama.

Brasil x Coréia do Norte. Chega mais aqui no sofá. Traz uma cerveja que o petisco já está na mesa. Começou!


[Ao som de Brazil is here, por Foals: http://www.youtube.com/watch?v=PUdTcidfLmE]

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Pequenas epifanias

"Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome."
Caio Fernando Abreu

[Ao som de Trust me, por Janis Joplin. http://www.youtube.com/watch?v=8c215JM3PZY]

domingo, 6 de junho de 2010

Há tanto tempo que te amo

Esse é o título de filme que assisti por esses dias.
O francês dos diálogos, o francês da trilha sonora, o francês da história.
A película vale a pena, mas, se diretora eu fosse, teria dado à narrativa um drama mais geral. Também daria mais vida ao cenário, que tem tudo para falar sozinho. Mas sou advogada. Talvez o grande pulo do gato do filme seja a particularidade de Juliette e a frieza das janelas.
A verdade, porém, é que o grande achado do filme foi "Dis quand reviendras-tu?", de Jean Louis Aubert. Fala muito sobre mim.
Indico essa chanson para quem anda tão francês quanto eu.


Dis, quand reviendras-tu?
Dis, au moins le sais-tu
Que tout le temps qui passe
Ne se rattrape guère...
Que tout le temps perdu
Ne se rattrape plus!

[Ao som de Dis quand reviendras-tu?, de Jean Louis Aubert. http://www.youtube.com/watch?v=wwcZrdwQvcw]

quinta-feira, 3 de junho de 2010

O Risco Rebelado


"Risco é uma palavra fascinante. Ela define, ao mesmo tempo, o ato de riscar de um lápis sobre um papel, marco de nascimento de qualquer arte, até o ponto de desequilíbrio onde a boa arte deveria existir, no território do desconhecido, do desconfortável e do incerto. Arte e Risco são palavras que andam juntas. Dos termos dos seguros que garantem a obra contra riscos até a ideia de fronteira de linguagem. Fazer Arte é arriscar, desconfortar, deslocar, revalorar a matéria e flertar com o perigo, com a possibilidade da perda (...)." Marcello Dantas, curador da exposição Rebelião em Silêncio, de Rebecca Horn, no CCBB de 21/05/2010 a 18/07/2010.