terça-feira, 24 de maio de 2011

Músicas que falam por si. Dia de Cherbourg. Beirut.


Cherbourg

And a fall from you
is a long way down
I've found a better way out
And a fall from you
is a long way down
I know a better way out

Well it's been a long time
since I've seen you smile
Gambled away my fright
Till the morning lights shine

Sunday morning
only fog on the limbs
I called it again
what do you know
And I filled our days
with cards and gin
You're alight again, my dear

I will lead the way, oh, lead the way
When I know
And I'll slip away, oh, sweep away
What I don't
Well seize the way, oh, seize the way
No, I won't
I will lead the way, oh, lead the day
When I know

(Beirut)

http://www.youtube.com/watch?v=r8hr7A62Vsk&feature=related

Humanizar.

Na infância eu já pensava no que eu queria ser quando crescesse. Não pensava muito naqueles casamentos de princesa, apesar de, claro, como toda menina que se preze também pensar nessas coisas de vez em quando. Mas eu queria mesmo era ser médica. Por outro lado, não me enxergava nos corredores de hospital. Sempre sonhei estar no meio de algumas aldeias em trabalhos humanitários. Coisas de Amazônia, Sertão do Nordeste, buracos da África e perdições da Ásia.

Lembrando assim, é muita viagem para uma mente infantil, mas era o que eu sonhava. Eu queria participar das ajudas da Cruz Vermelha e achava que a melhor forma de entrar nessas coisas era sendo médica. Daí eu tinha vários brinquedinhos associados à medicina, com maletas, injeções, etc.

Veio a dita maturidade e eu achei que essa coisa de aldeia não era para o meu bico de classe média. Mal ou bem eu ia ter que pagar minhas contas e não ia ter grana. A única coisa que me restaria era corredor de alguma clínica e eu não me via nos atendimentos com gente aberta. Também nunca conseguiria cobrar dinheiro em troca da vida de alguém, além de me relacionar com esses planos de saúde, muitas vezes, de conduta duvidosa. Talvez a maturidade tenha sido um erro, talvez um acerto. A falta de conhecimento técnico (química e física eram um calo na escolha) poderia ser mais danosa do que salvadora da pátria para os eventuais pacientes - coitados!

Fui me direcionando para outro mundo e caí para o Direito, em que eu só posso trabalhar pelas palavras. É difícil se fazer entender com aqueles mais simples quando você tem a barreira do poder em suas mãos, mesmo que você o dispense de todas as formas. É duro ver que a sociedade te reveste de um poder e que sem ele ninguém o respeita. É meio contraditório.

Penso que o advogado, o juiz, o promotor e qualquer outro que trabalhe com o Direito deve ser humanizado e o caminho da Justiça tem tomado o caminho contrário. O Poder Judiciário tem se tornado um poder grandioso, cada dia mais forte. Cabe aprofundar estudos a fim de verificar até que ponto a balança dos poderes tem se mantido equilibrada nos dias atuais porque eu vejo que o Judiciário, ao menos no Brasil, tem se tornado um macro-poder, aos poucos, liderado pelo STF. E com isso, cada vez mais distante do homem médio e de suas necessidades.

Ora, o profissional do Direito, principalmente, o Juiz, é um homem antes de qualquer coisa. Ele deve abraçar aquele que julga, ainda que o condene. Só assim poderá ter justiça.

Colocar-se no lugar do outro é preponderante para estarmos em sociedade. É mais fácil se humanizar como médico da Cruz Vermelha nos rincões da África, mas até em uma audiência em que tratamos de direito do consumidor é possível aproximar-se do cotidiano das pessoas e ver o quanto os problemas afetam o dia-a-dia de todos.

Em qualquer profissão é possível fazer o bem, desde que nos humanizemos.

Confesso que meu espírito ainda clama por liberdade. Ele deseja caminhar pelo mundo e enxergar de perto muita coisa. Reclama quando fica preso atrás do computador por muitas horas. Mas esse mesmo espírito compreende a amplitude do mundo nas pequenas experiências do dia-a-dia. Podemos ampliar nossa visão a todo instante.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Folhas molhadas

Naquele ano, as folhas faltavam, os papéis se sufocavam e as letras andavam. Naquela história, as palavras tinham cores, as canetas, sabores e o caminho, tambores. Naquele livro, a conclusão não encontrava o fim e o fim não enxergava o sim.
Depois daquela madrugada, o papel picado sobrou e voou pelo chão da casa. As canetas. Ora, as canetas, todas elas secaram suas cargas.
Num minuto minuto qualquer, o tempo resolveu parar, o relógio pifou e o cuco gritou para o silêncio. Tudo estancou.
Os escritos já não passeiam mais. A voz não recita. O coração não viaja. Por outro lado, o morno é mais calmo. O morno é o ameno. A cabeça é capaz de pensar. De tempos assim, há quem goste, há quem odeie.
Só sei que agora meu sono reclama insônia. A apatia reclama movimento pois as folhas molhadas por águas tranquilas que estão no meu quarto hoje não prestam para escrever.

(em 11/02/2004)

A verdade é que só me resta descobrir se prefiro o sossego da folha em branco às histórias perturbadoras que um livro te faz vivenciar para escrevê-lo. Prazer ou sacrifício em escrever? Histórias perturbadoras ou animadas? A interpretação depende do livro escrito, do leitor ou do escritor? Em algum momento, o leitor e o escritor vão se confundir. Qual é o custo de tudo isso?Até que ponto apreciar o sossego te impede de viver?

(hoje)


*** Ainda me impressiono como vivo e revivo coisas... 2004, 2011... anos passam e reflexões continuam similares. Putz.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Esconderijo

Procuro a solidão
Como o ar procura o chão
Como a chuva só desmancha
Pensamento sem razão
Procuro esconderijo
Encontro um novo abrigo
Como a arte do seu jeito
E tudo faz sentido
Calma pra contar nos dedos
Beijo pra ficar aqui
Teto para desabar
Você para construir

Dundarundê aunde iê

(Ana Cañas)


http://www.youtube.com/watch?v=4Ytks9DJhaA&feature=related

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Inconformismo versus paz


Leveza aparente. Ao mesmo tempo, uma breve pausa no chamado ímpeto-de-escrever ou coisa que o valha. Talvez ou só esteja mesmo sem assunto. Para anotar qualquer coisa, para falar ao telefone ou para simplesmente sentar numa mesa de bar ou tomar um chá numa tarde qualquer. É quase certeza que eu esteja ficando mais desinteressante.

Pois é. No mundo de hoje, todo mundo tem assunto. Seja sobre o hit da última estação ou sobre a morte do Bin Laden. Ah, também todo mundo sabe os resultados da rodada dos campeonatos estaduais de futebol. Eu até sei, mas estou sem assunto. Essas coisas me estão desinteressantes.

Ao mesmo tempo, não quero pensar sobre crises existenciais, problematizar a vida ou filosofar via Sartre. Deixei tudo pela estante. Sabe? Essas coisas todas não me dão muita paz, mas me fizeram ver que a minha paz é um pouco da minha felicidade.

Quero tomar um chá sozinha no meio da tarde e observar pessoas. Quero voltar ao meu paraíso de Ilha Grande e brincar na natureza, chegando em alguma praia ou cachoeira desconhecida. Quero contemplar e agradecer a vida.

É bom estar aqui, sabe? Só que de vez em quando eu esqueço disso porque eu fico problematizando demais.

É mal dos inconformados que querem mudar o mundo, mas... tenho visto que nem tudo é ruim e que eu posso fazer algo para mudar o mundo nas pequenas coisas.


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“Não acredito mais em revolução social, mas em microrreformas, transformações pessoais que sem que a gente perceba influenciam a comunidade, o estado, o país.”

Lya Luft, Múltipla Escolha

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