terça-feira, 24 de maio de 2011

Humanizar.

Na infância eu já pensava no que eu queria ser quando crescesse. Não pensava muito naqueles casamentos de princesa, apesar de, claro, como toda menina que se preze também pensar nessas coisas de vez em quando. Mas eu queria mesmo era ser médica. Por outro lado, não me enxergava nos corredores de hospital. Sempre sonhei estar no meio de algumas aldeias em trabalhos humanitários. Coisas de Amazônia, Sertão do Nordeste, buracos da África e perdições da Ásia.

Lembrando assim, é muita viagem para uma mente infantil, mas era o que eu sonhava. Eu queria participar das ajudas da Cruz Vermelha e achava que a melhor forma de entrar nessas coisas era sendo médica. Daí eu tinha vários brinquedinhos associados à medicina, com maletas, injeções, etc.

Veio a dita maturidade e eu achei que essa coisa de aldeia não era para o meu bico de classe média. Mal ou bem eu ia ter que pagar minhas contas e não ia ter grana. A única coisa que me restaria era corredor de alguma clínica e eu não me via nos atendimentos com gente aberta. Também nunca conseguiria cobrar dinheiro em troca da vida de alguém, além de me relacionar com esses planos de saúde, muitas vezes, de conduta duvidosa. Talvez a maturidade tenha sido um erro, talvez um acerto. A falta de conhecimento técnico (química e física eram um calo na escolha) poderia ser mais danosa do que salvadora da pátria para os eventuais pacientes - coitados!

Fui me direcionando para outro mundo e caí para o Direito, em que eu só posso trabalhar pelas palavras. É difícil se fazer entender com aqueles mais simples quando você tem a barreira do poder em suas mãos, mesmo que você o dispense de todas as formas. É duro ver que a sociedade te reveste de um poder e que sem ele ninguém o respeita. É meio contraditório.

Penso que o advogado, o juiz, o promotor e qualquer outro que trabalhe com o Direito deve ser humanizado e o caminho da Justiça tem tomado o caminho contrário. O Poder Judiciário tem se tornado um poder grandioso, cada dia mais forte. Cabe aprofundar estudos a fim de verificar até que ponto a balança dos poderes tem se mantido equilibrada nos dias atuais porque eu vejo que o Judiciário, ao menos no Brasil, tem se tornado um macro-poder, aos poucos, liderado pelo STF. E com isso, cada vez mais distante do homem médio e de suas necessidades.

Ora, o profissional do Direito, principalmente, o Juiz, é um homem antes de qualquer coisa. Ele deve abraçar aquele que julga, ainda que o condene. Só assim poderá ter justiça.

Colocar-se no lugar do outro é preponderante para estarmos em sociedade. É mais fácil se humanizar como médico da Cruz Vermelha nos rincões da África, mas até em uma audiência em que tratamos de direito do consumidor é possível aproximar-se do cotidiano das pessoas e ver o quanto os problemas afetam o dia-a-dia de todos.

Em qualquer profissão é possível fazer o bem, desde que nos humanizemos.

Confesso que meu espírito ainda clama por liberdade. Ele deseja caminhar pelo mundo e enxergar de perto muita coisa. Reclama quando fica preso atrás do computador por muitas horas. Mas esse mesmo espírito compreende a amplitude do mundo nas pequenas experiências do dia-a-dia. Podemos ampliar nossa visão a todo instante.

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