quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Começando a mudança de casa

Resolvi mudar de casa. Porque é bom.
Apesar de ninguém me visitar nessa casa que se tornou o Cadeira com Abajur, eu percebi que acabei desandando com alguns posts mais recentes. Cheguei até a criar um blog paralelo só para falar mais futilidades mesmo, diante da nova demanda interna que percebi (em mim) e não atolar esse blog com esses assuntos tolos que meu alter-ego se satisfazia.
Mas o Cadeira ficou bagunçado. Cheguei tarde demais.
É fato que o momento de expressar por impressão acabou. Tanto a tentativa de me jogar no abismo quanto de flertar com o altismo não me fascinam mais.
Projetos novos à vista combinam com paredes novas. Não as quatro de Sartre, por favor.
Crio mais um blog com cara mais permanente para falar de literatura, no que se incluem sebos, livrarias, escritores dos mais diversos e escritos próprios: www.epifaniasderebecca.blogspot.com

Qualquer outra notícia, entre nesse blog!

Manterei o Cadeira com Abajur ativo até passar os arquivos pelos quais tenho interesse para o próprio Epifanias de Rebecca. Vamos nos encontrar por lá! :D

Livro do dia

Está acontecendo a Bienal do Livro 2011 aqui no Rio. Saí dos pavilhões nesse sábado atolada com alguns livros nas sacolas e acabei me surpreendendo com a biografia da Clarice.

Confesso que sempre olhei bem torto pras biografias. Nunca li nenhuma por puro preconceito mesmo, mas como se tratava de Clarice e eu estava imersa numa Bienal... surgiu a chance diante da minha receptividade.

Comecei a ler nessa segunda-feira e, mesmo trabalhando, já li mais de 300 páginas. O danado é bom e, para quem acha Clarice encantadora, encontra no livro muito mais detalhes para se apaixonar.

E eu não estou ganhando nenhum centavo de propaganda. :P

Eis o livro:

Clarice, (lê-se, Clarice vírgula)
Por Benjamin Moser

Quase uma campanha por menos citações descontextualizadas nessa internet viral! Haha.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Confissão. Dela.


“Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos, dos choros.” (Caio Fernando Abreu)



A perfeição está longe de todas as pessoas. Dela também.

Mas a diferença dela para todos os outros é que ela não deseja a felicidade de todas as pessoas. Há aqueles que muito ama e os quer bem. Há os indiferentes e os quer bem. Há os que não quer bem. Esses últimos a feriram tão imensamente que a distância que guarda não basta. Não quer os seus sorrisos também, já que os dela foram roubados. Para sempre.

Descobriu que a inércia é o único bem que pode e consegue fazer para os últimos. Tenta esquecer, imagina que o ferimento suportado a duras penas pode ter sido fruto de um grande orgulho que guarda dentro de si. Tenta mudar a ótica. Tentativas infrutíferas. Em sua inércia, não quer os sorrisos dos últimos.

Quando as suas feridas são reabertas, grita no seu quarto, com cortinas fechadas e luz apagada. No silêncio dos seus gritos abafados que é sua agressividade contida pelos que dizem que o certo é perdoar, dentre tantas tentativas perdidas, engole seco e as lágrimas sangram. Sai de casa como se nada tivesse acontecido.

Agora ela só quer descobrir como fechar essas feridas definitivamente. Nessa batalha pelo certo e errado, loucura tem sido mais forte do que ela. Tem sido o único caminho viável. Remédio, gaze e sangue. Cicatriz. Sua vida ficou marcada e seu sorriso foi roubado. Onde estão as respostas?

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Anotações Insensatas, Caio Fernando Abreu

Mas não se pode agir assim, a amiga avisou no telefone. Uma pessoa não é um doce que você enjoa, empurra o prato, não quero mais. Tentaria, então, com toda a delicadeza possível, sem decidir propriamente decidiu no meio da tarde — uma tarde morna demais, preguiçosa demais para conter esse verbo veemente: decidir. Como ia dizendo, no meio da tarde lenta demais, escolheu que — se viesse alguma sofreguidão na garganta, e veio — diria qualquer coisa como olha, tenho medo do normal, baby.

Só que, como de hábito, na cabeça (como que separada do mundo, movida por interiores taquicardias, adrenalinas, metabolismos) se passava uma coisa, e naquele ponto em que isso cruzava com o de fora, esse lugar onde habitamos outros, começava a região do incompreensível: Lá, onde qualquer delicadeza premeditada poderia soar estúpida como um seco: não. E soou, em plena mesa posta.

Tanto pasmo, depois. Sozinho no apartamento, domingo à noite. Todas as coisas quietas e limpas, o perfume adocicado das madressilvas roubadas e o bolo de chocolate intocado no refrigerador — até a televisão falar da explosão nuclear subterrânea. Então a suspeita bruta: não suportamos aquilo ou aqueles que poderiam nos tornar mais felizes e menos sós. Afirmou, depois acendeu o cigarro, reformulou, repetiu, acrescentou esta interrogação: não suportamos mesmo aquilo ou aqueles que poderiam nos tornar mais felizes e menos sós? Não, não suportamos essa doçura.

Puro cérebro sem dor perdido nos labirintos daquilo que tinha acabado de acontecer. Dor branca, querendo primeiro compreender, antes de doer abolerada, a dor. Doeria mais tarde, quem sabe, de maneira insensata e ilusória como doem as perdas para sempre perdidas, e portanto irremediáveis, transformadas em memórias iguais pequenos paraísos-perdidos. Que talvez, pensava agora, nem tivessem sido tão paradisíacos assim.

Porque havia o sufocamento daquela espécie de patético simulacro de fantasia matrimonial provisória, a dificuldade de manter um clima feito linha esticada, segura para não arrebentar de súbito, precipitando o equilibrista no vazio mortal. Cheio de carinho, remexeu no doce, sem empurrar o prato. Preferia a fome: só isso. Pelo longo vício da própria fome — e seria um erro, porque saciar a fome poderia trazer, digamos, mais conforto? — ou de pura preguiça de ter que reformular-se inteiro para enfrentar o que chamam de amor, e de repente não tinha gosto?

De onde vem essa iluminação que chamam de amor, e logo depois se contorce, se enleia, se turva toda e ofusca e apaga e acende feito um fio de contato defeituoso, sem nunca voltar àquela primeira iluminação? Espera, vamos conversar, sugeriu sem muito empenho. Tarde demais, porta fechada. Sozinho enfim, podia remexer em discos e livros para decidir sem nenhuma preocupação de harmonia-com-o-gosto-alheio que sempre preferira um Morrison a Manuel Bandeira. Sid Vicious a Puccini. A mosca a Uma janela para o amor, sempre uma vodca a um copo de leite: metal drástico. Era desses caras de barba por fazer que sempre escolherão o risco, o perigo, a insensatez, a insegurança, o precário, a maldição, a noite — a Fome maiúscula. Não a mesa posta e farta, com pratos e panelas a serem lavados na pia cheia de graxa — mas um hambúrguer qualquer para você que escrevo. Mas os escritores são muito cruéis, você me ama pelo que me mata com coca-cola no boteco da esquina, e a vida acontecendo em volta, escrota e nua.

Não muito confuso, assim confrontado com sua explícita incapacidade de lidar com. A palavra não vinha. Podia fazer mil coisas a seguir. Mas dentro de qualquer ação, dentes arreganhados, restaria aquela sua profunda incapacidade de lidar com. Um instante antes de bater outra, colocar uma velha Billie Holiday e sentar na máquina para escrever, ainda pensou: gosto tanto de você, baby. Só que os escritores são seres muito cruéis, estão sempre matando a vida à procura de histórias. Você me ama pelo que me mata. E se apunhalo é porque é para você, para você que escrevo — e não entende nada.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Qual é o seu caminho?


Tenho andado distraída por aí desviando dos pedaços de mim. Talvez, por isso mesmo, eu não tenha aparecido por aqui para escrever alguma coisa. É quase certo que seja esse o motivo que tenha me afastado das letras densas, do apanhado de pensamentos da caixola e das falas que me intrigam (muito provavelmente, só a mim mesma).

O batom vermelho, a roupa da estação, a bota de cano longo ou curto. Moda. Essas coisas todas não cansam a alma. Não a minha. Sequer são algo que eu considero verdadeiramente. Mas descansam. Fui me distraindo por essas beiradas. De fato, são um pouco de alguma coisa para alguém cuja auto-estima sempre foi das piores. Meu nome está nesta lista de chamadas, não é, consciência? Vamos valorizar um pouco do que é "legalzinho" no alto do momento mulherzinha, consciência?

Mas não me dou o trabalho de aprofundar psicologicamente isso ou aquilo no vestuário, vai. Eu só gosto de escrever. Quando me dou conta, o batom está na boca, a maquiagem está feita e a rua me espera. Percebi que recentemente cedi à fuga ao profundo porque vi o quanto a superfície é confortável. Meio mau isso, não é? Mas confesso que não tenho querido pensar muito não. Quase preguiça existencial.

Ai, ai, ai. Por outro lado, a minha consciência, só ela, é capaz de me conhecer como ninguém. Deixa-me caminhar sozinha por cinco, dez minutos - que sejam - por um mundo de frívolas diversões para que eu respire. Sabe que, por minhas próprias pernas eu caminho para mim mesma.

A cela da liberdade do "se conhecer cada vez mais" é meu caminho inexorável. É a única via possível para existir. Eis que o auto-conhecimento vem com uma profundidade que suga como o vácuo. A superfície azul e isenta que a maioria exala pelos poros não é real.

Se me distraio pelos cantos é para respirar, captar um pouco de ar pelos pulmões e dar mergulhos cada vez mais profundos naquilo que sou eu. Quem sabe um dia eu saberei responder a quem me perguntou "quem é Rebecca?" pois eu nunca sei.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Informativo: Enxaqueca é coisa séria

Como as informações ficam meio que à deriva pela internet, talvez esse post possa interessar ou, até mesmo, quem sabe, ajudar alguém que um dia digite as palavras num google da vida e... ancore por aqui.

ENXAQUECA.
Eu já escrevi sobre ela por essas bandas. Agora quero trazer um pouco do que nós, quando sofremos um pouco com algo, aprendemos na pele. Não sou médica, mas paciente. Tenho a visão de quem tem senta deita na maca, não entende nada dos compostos químicos e passou por alguns médicos, colocando sua vida na mão deles. Falo porque hoje tenho esperanças de que posso melhorar. Já não acreditei nisso.

Eu nem sabia que enxaqueca era tratada por neurologista e, quando soube, esbarrei com um cara que não sei o que estava fazendo de jaleco. Tempo perdido o meu, né? Tomem cuidado!

*** *** *** ***

Enxaqueca não é uma mera dor de cabeça. Nem debato quando digo que sofro de enxaqueca e as pessoas falam que morrem de dor de cabeça como eu. Elas não vão entender mesmo.

Enxaqueca é doença sem causa cientificamente definida. É como uma asma, por exemplo. Você está super bem, quieto, mas tem a doença. Só se lembra que tem a doença quando vem a crise.

O médico não sabe explicar o porquê você tem aquilo, mas você tem. A única coisa que ele pode fazer é te ajudar a prevenir as crises de enxaqueca que podem durar algumas horas ou dias. Já tive uma crise que durou 4 dias.

Uma vez instalada a crise, é meio complicado afastar a dor. O negócio é esperar passar. Há uns remédios SOS para isso, mas nem sempre eles resolvem. Se tomados depois de certo tempo de dor, só rezando. Aprendi depois de muita teimosia que tem que tomar o analgésico logo que a crise começa. Mas, se liga: NÃO TOME ANALGÉSICOS EM EXCESSO. Você pode provocar, a longo prazo, o aumento da própria intensidade das dores que sente. Isso você não. Só tome analgésicos autorizados pelo médico. Ele sabe o que é melhor para você.

Por isso, o tratamento da enxaqueca é voltado para a prevenção das crises e, com isso, a melhora da qualidade de vida de quem sofre com ela. O analgésico é para uma última instância mesmo.

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1) A minha enxaqueca tem história clínica que começou com dores de cabeça esparsas desde os 15 anos de idade, que foram aumentando aos poucos, na frequência e na intensidade, com o passar dos anos. A maioria das enxaquecas clássicas também surgem dessa forma.
A minha enxaqueca começou a se agravar por volta dos 23, 24 anos, mas eu só fui buscar ajuda de médicos neurologistas aos 26 anos, após umas 3 visitas a emergências.

2) O primeiro neurologista que visitei pediu a realização de um exame que se chama "mapeamento cerebral". O exame não detectou qualquer anomalia no cérebro, o que afastou qualquer doença neurológica mais grave. Com isso, esse neurologista simplesmente virou para mim e disse que eu não tinha NADA. Eu deveria procurar uma ginecologista e um oftalmologista porque a especialidade dele não me ajudaria. É de se notar que eu cheguei ao consultório dele com uma histórico de anotações com frequência de dores de cabeça nos últimos meses e três visitas recentes a emergências de hospital por dores de cabeça, incluindo, vômitos por conta das dores muito fortes. Mas eu não tinha nada.

3) Indo à ginecologista, descobri que aquela consulta com o primeiro neurologista tinha sido um absurdo e que havia neurologistas que dariam atenção ao histórico que eu tinha anotado com as minhas dores de cabeça nos últimos meses, mas eu não tinha idéia sobre qualquer recomendação de neurologista bom para ir. Eu já estava tão desesperada sem solução que eu resolvi ir num neurologista que deu entrevista no Fantástico e que é chefe de neurologia de uma das universidades mais conceituadas do Brasil.

4) Paguei a consulta (cara... rs) e saí do consultório sabendo que enxaqueca só vai embora lá pelos 50, 60 anos, mas tem tratamento. Hoje eu tenho os telefones do consultório, celular, casa e emails do médico. Estou há quase um ano tratando a enxaqueca. Ainda tenho diversas crises de enxaqueca, mas nunca mais fui à emergência de hospital.

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Recomendações do médico para o tratamento da enxaqueca (prevenção de crises):

- Ter rotina: dormir nos mesmos horários, acordar nos mesmos horários e comer regularmente.
- Praticar exercícios físicos, ainda que leves.
- Evitar o estresse (foi comprovado que é um dos principais potencializadores das crises de enxaqueca).


Potencializadores de crise (que não necessariamente vão gerar crise):

- Esforço físico excessivo, sem condicionamento.
- Excessos hormonais.
- Alimentos gordurosos.
- Estresse (de leve a agudo).
Na verdade, excessos devem ser evitados mesmo...

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Deus está entre nós!

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Dia "das alegria"

O dia está mega chuvoso e hoje eu tenho um casamento para ir no Alto da Boa Vista, único lugar nesse Riozão de Janeiro em que se pode dizer que o frio chega. E chegamos no inverno, né? Eu aqui me vangloriando que não sou consumista e blá. Balela. Já estava com tudo acertado na minha cabeça, mas com esse tempo tosco me vi sem-roupa-nenhuma-para-o-dia-de-festa. ;P. O problema do dia é que temos um feriado e as lojas estão fechadas. Só abrem na parte da tarde e não terei tempo para procurar algo decente. O que será do amanhã, ou melhor, da noite?
Ah, no final, dá tudo certo. Ontem eu me "boludei" com muitos pedacinhos de pizza felizona mesmo. *.*

Falando no casamento de hoje... devo estar já na conta do terceiro do ano. As amigas estão animadas mesmo nesse 2011. Todas tirando os véus do armário e virando senhoras.
Enquanto estamos nas festas de casamento, em cima do salto alto (porque elegância a gente não esquece) e dançando até o chão (porque não é elegante mas temos que lembrar dos tempos sinistros), continuo a me sentir jovem. Fico tensa quando começar a comprar as lembrancinhas para os batizados mesmo. O momento mãe vai me fazer sentir mais velha MESMO. Aí a cuca vai pegar. ;/

Enquanto isso... "é o bonde do vinho... chã, nã, nã, nã, nã". E olha que eu não bebo. :D

terça-feira, 21 de junho de 2011

Falando sozinha... blá blá blá


Consumista eu nunca fui muito não. Sempre fui daquelas que gosta de namorar vitrines.

A verdade é que eu sempre fui atraída por promoções. Outlet é um nome que pisca em frente aos meus olhos em vermelho. E antigamente eu não me controlava. Comprava coisas diversas. Saía das lojas atolada de sacolas, com quatro pares de sapatos de uma vez, acompanhada de não sei quantos vestidos e etc. Fe-liz. Muita coisa ficava por usar.

O problema é que eu não precisava daquilo tudo, né? E eu acumulei seis portas de guarda-roupa, dentre algumas variações de manequins. Mesmo doando coisas que eu não usava - pasmem - desde que eu entrei na faculdade. Daí conto dez anos.

Não me pergunte qual foi o estalo. O fato é que eu resolvi colocar mesmo o pé no freio. Compro de vez em quando, uma coisa ou outra. Na maioria das vezes, ainda me arrependo porque não tenho necessidade do que compro. Até porque eu ainda ganho coisas, né?

A verdade é que, mesmo depois de muito tempo sem comprar, tenho de tudo nesse armário, ainda que muita coisa básica. Mas eu sou assim mesmo e não adianta insistir para eu usar uma saia listrada com uma blusa de bolinhas porque está na moda. Não aguento. No máximo eu coloco um lenço tipo anos 70 quando estou muito Rio 40º e espalhando felicidade por aí. Prefiro acessórios, ok? ;P

É claro que eu não fico tentando seguir que nem uma desesperada as últimas tendências da SPFW e isso ajuda a não ter vontade de comprar. Nem por isso eu deixo de gostar e acompanhar por alto. Mas a moda é cíclica e o básico nunca fica bizarro de se usar.

Também admito que as roupas deixaram de me encantar pelo olhar. Hoje o que me detém é um corte bem feito, um tecido diferente e, na boa, isso é caro. Aí nem sempre eu posso adquirir os itens desejados... ;P


É! Tô com saudade do lenço anos 70. Vou tirar do armário! :D

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Tamagoshi

Há uns meses atrás, meio do que do nada, eu cismei que queria um tamagoshi. Não sei de onde tirei isso e não sei como lembrei do brinquedinho. Não ganhei o meu presentinho (claro, né? haha) e acabei esquecendo. Abro o meu facebook e alguém comenta sobre tamagoshi. Lá está ele de novo. Ah, minha vontade de matar o amiguinho imaginário de fome de novo voltou. Eu quero. =D

Alguém ainda se lembra da mania dos tamagoshis lá pelos anos 90? Invadiram as escolas e eu estava lá. O meu era amarelo e vivia morrendo de fome ou na sujeira. Pobre coitado. Era um amiguinho virtual, em uma época em que computadores e celulares não estavam aos montes nas casas de todos.

É claro que, como toda coisa dessas, tinha que ter sido inventado por japoneses. O que me causou espanto mesmo foi que, por pura curiosidade fui procurar se os bichinhos ainda existiam e, olha, eles podem até ter filhos hoje em dia... no celular!

Mas eu só queria um tamagoshizinho da primeira versão, igualzinho aos dos anos 90... bem geek. ;P

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Aforismos I

Pensei que eu era mais egoísta. Antes fosse.

=/

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Orquídea lilás

É intrigante como nós, com o passar do tempo, passamos a assimilar certas coisas a pessoas. É a forma que encontramos de estar perto de pessoas que já não temos mais tão perto de nós.

Minha avó hoje acabou sendo toda orquídea lilás que eu encontro. O difícil é encontrá-la.
A orquídea lilás quase fala comigo e eu quase falo com ela.
O prazer está em sentir o seu cheiro. É como se eu conseguisse abraçar a nona de novo e segurar em suas mãozinhas engurradinhas de vó italiana. As pétalas das flores quase são seus cabelos.
Não é à toa que tenho essa sensação. Tenho meus motivos familiares (mistééério.. ehehe). Mas nem todos sabem o que uma orquídea lilás significa para mim.
Quando ela está comigo, ainda que em pensamento, a coisa é grande. \o/

terça-feira, 14 de junho de 2011

Acordar em 14 de junho


*** *** *** ***

Acordei com duas das minhas três gatas na minha cama. Elas estavam com frio. Uma estava quase que abraçada comigo e a outra, bem perto dos meus pés. Acho fofo quando acordo assim. Quase não tenho vontade de acordar, até porque elas não querem sair da cama por nada. Creio que eu poderia trazer todos os peixes do mundo e elas continuariam com a preguiça de uma cama tranquila. Minha cama deve ser boa demais mesmo.

*** *** *** ***

Falando em noite, cama e afins. Tive um sonho estranho. Havia um bom tempo que eu não me recordava dos meus sonhos e essa noite me lembrei.
Eu e Gustavo estávamos viajando em alguma ilha paradisíada, tipo, com uma galera true Rapa nui (Ilha de Páscoa). Sonhei que estávamos trilhando e chegamos, enfim, numa mega praia. O problema é que estava chovendo e as ondas estavam mega grandes. Ainda assim, eu queria entrar no mar, mas o nosso guia me convenceu que eu morreria se entrasse porque nem ele encararia aquelas ondas, mesmo sendo surfista de ondas grandes. Desisti meio contrariada. Continuamos nossa trilha pela Baía e, bem perto dali, encontramos uma enseada com um solzão e águas tranquilas. O problema é que tinham espinhos. Só eu encostei em todos, mas a sorte é eles grudaram no meu biquíni e eu consegui retirá-los. Lá curtimos a praia e ainda entramos numa casa com artesanato local, cheio de madeira rústica e máscaras locais. Depois eu não me recordo mais.
Foi isso aí. O sonho tem início, meio e fim. Tem até uma certa coerência na história do próprio sonho, mas não sei de onde tiro essas idéias.
Freud explica. Ou Jung. Ou Kardec. ;P

*** *** *** ***

Hoje é aniversário do meu irmão. Meu único irmão. O irmão mais novo, mas que por muitas vezes parece mais velho. O irmão que eu sempre quis e que não imagino a vida sem ele.
Quando ele nasceu, eu tinha cinco anos de idade. Curti a barriga da minha mãe crescer e dava carinho sabendo que ele estava vindo para modificar a minha vida para sempre. Sabia que ganhava mais que um irmão, um amigo/companheiro eterno, de vidas sucessivas.
Comemorar o aniversário do meu irmão no dia de hoje é lembrar que há vinte e dois anos atrás eu ganhei meu companheiro da vida, aquele que passaria a me conhecer melhor que eu mesma, o grande amigo de todas as horas.
Vida longa, hermano. =D
Com muita torta alemã para adocicar.

*** *** *** ***

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Acordes musicais e o amor

















Durante 24 anos caminhei sozinha.
Uma solidão no meio da multidão.
Até que encontrei você.
E foi aí que muitas coisas começaram a fazer sentido.
A gente vive, ama e depois morre.
Mas a verdade é que ninguém sabe exatamente o que está fazendo por aqui.
Com você, eu não preciso saber.
Só viver.


(Little lover, AC/DC)

terça-feira, 7 de junho de 2011

Dicas para dia 12.06 no RJ

Está chegando o Dia dos Namorados e eu não tenho noção ainda do que farei no dia 12.06 que, nesse ano, cai num domingo, facilitando um tantão as coisas.

Há coisa de um mês atrás eu comecei a procurar pousada para reservar no final de semana do dia 12. Descobri que a rede hoteleira resolveu explorar o amor. Pois é. Maligno. Foi o primeiro ano em que nós pensamos em viajar nessa data e eu descobri que os preços, instantaneamente, aumentaram e todos resolveram fechar, no mínimo, duas diárias. Notem que ainda estamos em baixa temporada. O lance é que eu e o ser amado seremos madrinha e padrinho, respectivamente, em um casamento na sexta à noite do dia 10. Fica mais complexo cumprir as tais duas diárias. Ainda assim eu continuo procurando tudo - juro - tudo. Teimosa ou persistente, sei lá.
Eis que no início de junho toda a Visconde de Mauá já estava lotada e eu meio que perdi as esperanças. Minha tristeza residiu justamente no fato de o lugar estar lotado. Quando eu conheci o lugar os hippies ainda viam duendes por lá.
Só para constar, não curto a Marcha da Maconha não, hein? Apesar de curtir todos os lugares bacanas em que os hippies chegaram nos anos 70 e quando eu falo desses lugares o pessoal fazer um "ãhhhh" como se eu bebesse chá de cogumelo. Janis Joplin é melhor do que Mulher Melão, vamos combinar.

Parti para os restaurantes. Normal. A opção agora é a boludice, né? Mas, na boa, filas e ambientes em que a gente luta com o barulho do ambiente para conversar estão fora de cogitação. Aí é que reside a guerra. A galera da gastronomia também resolve extrapolar o sentimento romântico que norteia a data bonitinha. Encontrei valores astronômicos que me deram vontade de comer sanduíche de mortadela na Quinta da Boa Vista. O problema é que está um frio de dar dó e também dá preguiça! Também não tenho cesta de palha. Haha. Com sol, qualquer canto ao ar livre se torna um passeio e tanto. Já no frio... oh... só uma vela salva o romantismo. :P

Nessas épocas estivemos lembrando nossos dias dos namorados antigos.
No primeiro dia dos namorados em que passamos juntos almoçamos no Restaurante à Mineira, na Rio-Petrópolis. Numa quinta-feira aleatória, partimos para esse reduto de paz. Foi um dia jóia.
No segundo dia dos namorados dia dos namorados almoçamos num restaurante na Dutra que eu cismei que tínhamos que ir porque era longe e tinha vista bacana. De fato, demoramos coisa de uma hora para chegar lá, mas valeu a pena porque não tinha fila nem barulho! Haha.

Enfim.
Para quem está pelo Rio de Janeiro, ficam algumas dicas que povoam minha mente, mesmo que eu não tenha resolvido nada:

Restaurante Aprazível. Em Santa Tereza. Eu gostei muito mesmo pelo site. Aparentemente, é caro. Mas acho que vale a pena em algum momento conhecer o local. http://www.aprazivel.com.br/aprazivel.htm

Restaurante Turino. Na Barra da Tijuca. Vale pela vista para a Lagoa, mas não sei se a comida é mercenária, né? http://www.turino.com.br/index.asp

Restaurante La Mole. Por incrível que pareça, tem umas unidades que são fofas. Tem que saber escolher. Não me vai comer num La Mole de shopping, né? Caso contrário, é melhor parar de falso moralismo e se jogar logo num Burger King que nem a gente faz todo final de semana. :D

Quiosques da Lagoa na altura do Parque dos Patins. http://www.lagoarodrigodefreitas.com.br/mapa.html

Visita ao Cristo Redentor pela metade do preço pelo Projeto Carioquinha. Aí vai depender do sol no dia: http://carioquinha.com.br/

É, eu queria mesmo viajar, mas o capitalismo está quase exterminando as possibilidades de eu ir para a serra nesse final de semana. Ainda bem que estou pelo Rio, uma cidade cheia de possibilidades. Ainda vamos decidir.

Na verdade, qualquer lugar está jóia desde que estejamos juntos!
Se eu parar para lembrar, nossos melhores almoços sempre foram os miojos e seletas toscos dos campings que fizemos juntos, mas cheios de amor. Tudo bem. Acho que meu arroz de saquinho não fez muito sucesso até porque colou na panela. HAHAHAHA. Mas os miojos deram certo! S2

terça-feira, 24 de maio de 2011

Músicas que falam por si. Dia de Cherbourg. Beirut.


Cherbourg

And a fall from you
is a long way down
I've found a better way out
And a fall from you
is a long way down
I know a better way out

Well it's been a long time
since I've seen you smile
Gambled away my fright
Till the morning lights shine

Sunday morning
only fog on the limbs
I called it again
what do you know
And I filled our days
with cards and gin
You're alight again, my dear

I will lead the way, oh, lead the way
When I know
And I'll slip away, oh, sweep away
What I don't
Well seize the way, oh, seize the way
No, I won't
I will lead the way, oh, lead the day
When I know

(Beirut)

http://www.youtube.com/watch?v=r8hr7A62Vsk&feature=related

Humanizar.

Na infância eu já pensava no que eu queria ser quando crescesse. Não pensava muito naqueles casamentos de princesa, apesar de, claro, como toda menina que se preze também pensar nessas coisas de vez em quando. Mas eu queria mesmo era ser médica. Por outro lado, não me enxergava nos corredores de hospital. Sempre sonhei estar no meio de algumas aldeias em trabalhos humanitários. Coisas de Amazônia, Sertão do Nordeste, buracos da África e perdições da Ásia.

Lembrando assim, é muita viagem para uma mente infantil, mas era o que eu sonhava. Eu queria participar das ajudas da Cruz Vermelha e achava que a melhor forma de entrar nessas coisas era sendo médica. Daí eu tinha vários brinquedinhos associados à medicina, com maletas, injeções, etc.

Veio a dita maturidade e eu achei que essa coisa de aldeia não era para o meu bico de classe média. Mal ou bem eu ia ter que pagar minhas contas e não ia ter grana. A única coisa que me restaria era corredor de alguma clínica e eu não me via nos atendimentos com gente aberta. Também nunca conseguiria cobrar dinheiro em troca da vida de alguém, além de me relacionar com esses planos de saúde, muitas vezes, de conduta duvidosa. Talvez a maturidade tenha sido um erro, talvez um acerto. A falta de conhecimento técnico (química e física eram um calo na escolha) poderia ser mais danosa do que salvadora da pátria para os eventuais pacientes - coitados!

Fui me direcionando para outro mundo e caí para o Direito, em que eu só posso trabalhar pelas palavras. É difícil se fazer entender com aqueles mais simples quando você tem a barreira do poder em suas mãos, mesmo que você o dispense de todas as formas. É duro ver que a sociedade te reveste de um poder e que sem ele ninguém o respeita. É meio contraditório.

Penso que o advogado, o juiz, o promotor e qualquer outro que trabalhe com o Direito deve ser humanizado e o caminho da Justiça tem tomado o caminho contrário. O Poder Judiciário tem se tornado um poder grandioso, cada dia mais forte. Cabe aprofundar estudos a fim de verificar até que ponto a balança dos poderes tem se mantido equilibrada nos dias atuais porque eu vejo que o Judiciário, ao menos no Brasil, tem se tornado um macro-poder, aos poucos, liderado pelo STF. E com isso, cada vez mais distante do homem médio e de suas necessidades.

Ora, o profissional do Direito, principalmente, o Juiz, é um homem antes de qualquer coisa. Ele deve abraçar aquele que julga, ainda que o condene. Só assim poderá ter justiça.

Colocar-se no lugar do outro é preponderante para estarmos em sociedade. É mais fácil se humanizar como médico da Cruz Vermelha nos rincões da África, mas até em uma audiência em que tratamos de direito do consumidor é possível aproximar-se do cotidiano das pessoas e ver o quanto os problemas afetam o dia-a-dia de todos.

Em qualquer profissão é possível fazer o bem, desde que nos humanizemos.

Confesso que meu espírito ainda clama por liberdade. Ele deseja caminhar pelo mundo e enxergar de perto muita coisa. Reclama quando fica preso atrás do computador por muitas horas. Mas esse mesmo espírito compreende a amplitude do mundo nas pequenas experiências do dia-a-dia. Podemos ampliar nossa visão a todo instante.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Folhas molhadas

Naquele ano, as folhas faltavam, os papéis se sufocavam e as letras andavam. Naquela história, as palavras tinham cores, as canetas, sabores e o caminho, tambores. Naquele livro, a conclusão não encontrava o fim e o fim não enxergava o sim.
Depois daquela madrugada, o papel picado sobrou e voou pelo chão da casa. As canetas. Ora, as canetas, todas elas secaram suas cargas.
Num minuto minuto qualquer, o tempo resolveu parar, o relógio pifou e o cuco gritou para o silêncio. Tudo estancou.
Os escritos já não passeiam mais. A voz não recita. O coração não viaja. Por outro lado, o morno é mais calmo. O morno é o ameno. A cabeça é capaz de pensar. De tempos assim, há quem goste, há quem odeie.
Só sei que agora meu sono reclama insônia. A apatia reclama movimento pois as folhas molhadas por águas tranquilas que estão no meu quarto hoje não prestam para escrever.

(em 11/02/2004)

A verdade é que só me resta descobrir se prefiro o sossego da folha em branco às histórias perturbadoras que um livro te faz vivenciar para escrevê-lo. Prazer ou sacrifício em escrever? Histórias perturbadoras ou animadas? A interpretação depende do livro escrito, do leitor ou do escritor? Em algum momento, o leitor e o escritor vão se confundir. Qual é o custo de tudo isso?Até que ponto apreciar o sossego te impede de viver?

(hoje)


*** Ainda me impressiono como vivo e revivo coisas... 2004, 2011... anos passam e reflexões continuam similares. Putz.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Esconderijo

Procuro a solidão
Como o ar procura o chão
Como a chuva só desmancha
Pensamento sem razão
Procuro esconderijo
Encontro um novo abrigo
Como a arte do seu jeito
E tudo faz sentido
Calma pra contar nos dedos
Beijo pra ficar aqui
Teto para desabar
Você para construir

Dundarundê aunde iê

(Ana Cañas)


http://www.youtube.com/watch?v=4Ytks9DJhaA&feature=related

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Inconformismo versus paz


Leveza aparente. Ao mesmo tempo, uma breve pausa no chamado ímpeto-de-escrever ou coisa que o valha. Talvez ou só esteja mesmo sem assunto. Para anotar qualquer coisa, para falar ao telefone ou para simplesmente sentar numa mesa de bar ou tomar um chá numa tarde qualquer. É quase certeza que eu esteja ficando mais desinteressante.

Pois é. No mundo de hoje, todo mundo tem assunto. Seja sobre o hit da última estação ou sobre a morte do Bin Laden. Ah, também todo mundo sabe os resultados da rodada dos campeonatos estaduais de futebol. Eu até sei, mas estou sem assunto. Essas coisas me estão desinteressantes.

Ao mesmo tempo, não quero pensar sobre crises existenciais, problematizar a vida ou filosofar via Sartre. Deixei tudo pela estante. Sabe? Essas coisas todas não me dão muita paz, mas me fizeram ver que a minha paz é um pouco da minha felicidade.

Quero tomar um chá sozinha no meio da tarde e observar pessoas. Quero voltar ao meu paraíso de Ilha Grande e brincar na natureza, chegando em alguma praia ou cachoeira desconhecida. Quero contemplar e agradecer a vida.

É bom estar aqui, sabe? Só que de vez em quando eu esqueço disso porque eu fico problematizando demais.

É mal dos inconformados que querem mudar o mundo, mas... tenho visto que nem tudo é ruim e que eu posso fazer algo para mudar o mundo nas pequenas coisas.


***

“Não acredito mais em revolução social, mas em microrreformas, transformações pessoais que sem que a gente perceba influenciam a comunidade, o estado, o país.”

Lya Luft, Múltipla Escolha

***

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Antes de dormir, eu leio. Todos os dias.

Uma Arte
Elizabeth Bishop


Não é difícil dominar a arte de perder;
Tanta coisa parece preenchida pela intenção de ser perdida que sua perda não é nenhum desastre.

Perca alguma coisa todo dia. Aceite a novela
das chaves perdidas, a hora desperdiçada.
Não é difícil dominar a arte de perder.

Exercite se perdendo mais, mais rápido:
lugares, nomes, e pra onde mesmo você ia viajar?
Nenhum desastre.

Perdi o relógio de minha mãe e, olha só,
de três casas que amava, a última e a penúltima se foram.
Não é difícil dominar a arte de perder.

Perdi duas cidades adoráveis e ainda alguns domínios,
Propriedades, dois rios, um continente.
Sinto sua falta, mas não foi nenhum desastre.

Até mesmo perder você (a voz gozada, o gesto que eu amava),
não posso mentir. É claro que não é tão difícil dominar a arte de perder,
apesar de parecer, pode escrever, desastre.

Lya Luft, in Múltipla Escolha

“A falsa liberdade e a síndrome do ‘ter de’: essa é uma manifestação típica do nosso tempo, contagiosa e difícil de curar porque se alimenta da nossa fragilidade, do quanto somos impressionáveis, e da força do espírito de rebanho que nos condiciona a seguir os outros. Eu tenho de fazer o que se espera de mim. Tenho de ambicionar esses bens, esse status, esse modo de viver – ou serei diferente, e estarei fora.”

“O ‘ter de’ nos faz correr por aí com algemas nos tornozelos, mas talvez a gente só quisesse ser um pouco mais tranqüilo, mais enraizado, mais amado, com algum tempo para curtir as coisas pequenas e refletir. Porém temos que estar à frente, ainda que na fila do SUS.”

“Queremos mais que o possível, o espantoso: atividade, dinheiro, perfeição física, competitividade no trabalho, desempenho no amor, quem sabe até aquela foto na revista, a entrevista, os segundos de fama.

Mas sofremos a solidão no quarto, a ausência à mesa, a alegria perdida, o rosto onde nada combina, o silicone que escorre, a cicatriz que ressurge, e o tempo que ri de nós porque não o soubemos encarar. Enquanto nós, teatro mambembe de pequenos absurdos ainda não encontramos nem a roupa nem o texto, nem sabemos quem vai nos dirigir, platéia de nós mesmos, sentada no escuro.

Carentes de uma escuta interessada, não temos com quem falar. Para as decisões que devíamos tomar (às vezes o melhor é não fazer nada, mas refletir um pouco), precisamos de informação, que nasce da comunicação. Mas, no século dos mais altos decibéis, quando se trata da palavra somos desajeitados: temos medo de falar, e temor de silenciar.”

“As almas não vestem uniforme como nos antigos internatos ou nas festas modernas: somos individualidades entre as quais aqui e ali se constrói uma ponte, mas também se erguem paredes, que podem ser de vidro ou pedra bruta.”

“Quero falar, mas exijo ser inteiramente compreendido, e assim me frustro; prefiro calar para não assumir a responsabilidade sobre o efeito das minhas palavras, e assim me isolo.”

“Sempre seremos dois: ser um só é a ilusória promessa de um romantismo cruel.”

“Vasculhar a alma do outro pode trazer decepções, não porque ele cometa pecados extraordinários, mas porque esperávamos encontrar ali a perfeição, e o outro se sentirá agredido.”

“Ao contrário do que se pensa, do questionamento pode resultar, em vez de mais confusão, simplicidade. Sossego e recolhimento para lamber as feridas, alisar os entusiasmos, pentear as emoções, voltar para a vida fazendo bonito. Pois a gente merece. Num instante de felicidade, talvez se consiga voltar ao colo dos afetos, ou procurar novos se os velhos não nos fazem bem. Caminhamos com incertezas soprando seu bafo em nosso calcanhar – por isso, mesmo trôpegos e tímidos, somos uns heróis no cotidiano e no transcendental.

A gente só teria de ser um pouco mais despojado, menos desconfiado, mais aberto – atento para não se enredar em princípios mofados ou modernosos demais, que para ouvidos mais despreparados parecem os mais interessantes.

Sempre foi duro vencer o espírito de rebanho, mas esse conflito se tornou quase esquizofrênico: por um lado, precisamos ser como todo mundo, é importante adequar-se, pertencer; por outro lado, é necessário criar e preservar uma identidade e até impor-se, às vezes transgredir para sobreviver. Em geral acabamos descobrindo ou inventando nosso papel, nosso roteiro, nosso caminho.

Porém, no fundo de cada um aquele olho da dúvida entreabre sua pesada pálpebra e nos encara, compadecido ou provocador: como estamos vivendo a nossa vida, quanto valemos, quanto decidimos ou somos tangidos, quanto estamos conscientes do nosso próprio drama e fraqueza, mas também da nossa força?

Em que medida prevalece em nós a vontade ainda infantil de que outros resolvam os problemas, ou quanto curtimos, dentro de nossas possibilidades, a aventura cotidiana de cada banal, ou extravagante, ou apenas indispensável opção?”

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“Assumir um tom diferente ou mudar qualquer situação, ser o soldado com passo diferente, pode ser muito penoso: exige determinação, informação, ação fora da nossa geral ambigüidade. Mesmo em situações difíceis, mesmo sofrendo, queremos e não queremos mudar. Queremos e não queremos repensar a vida. Falsamente livres nesta que se diz uma sociedade liberada, tangidos por desejos e chamados de toda sorte, nosso território é a contradição: comodismo ou heroísmo, o que escolher?"

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