segunda-feira, 23 de maio de 2011

Folhas molhadas

Naquele ano, as folhas faltavam, os papéis se sufocavam e as letras andavam. Naquela história, as palavras tinham cores, as canetas, sabores e o caminho, tambores. Naquele livro, a conclusão não encontrava o fim e o fim não enxergava o sim.
Depois daquela madrugada, o papel picado sobrou e voou pelo chão da casa. As canetas. Ora, as canetas, todas elas secaram suas cargas.
Num minuto minuto qualquer, o tempo resolveu parar, o relógio pifou e o cuco gritou para o silêncio. Tudo estancou.
Os escritos já não passeiam mais. A voz não recita. O coração não viaja. Por outro lado, o morno é mais calmo. O morno é o ameno. A cabeça é capaz de pensar. De tempos assim, há quem goste, há quem odeie.
Só sei que agora meu sono reclama insônia. A apatia reclama movimento pois as folhas molhadas por águas tranquilas que estão no meu quarto hoje não prestam para escrever.

(em 11/02/2004)

A verdade é que só me resta descobrir se prefiro o sossego da folha em branco às histórias perturbadoras que um livro te faz vivenciar para escrevê-lo. Prazer ou sacrifício em escrever? Histórias perturbadoras ou animadas? A interpretação depende do livro escrito, do leitor ou do escritor? Em algum momento, o leitor e o escritor vão se confundir. Qual é o custo de tudo isso?Até que ponto apreciar o sossego te impede de viver?

(hoje)


*** Ainda me impressiono como vivo e revivo coisas... 2004, 2011... anos passam e reflexões continuam similares. Putz.

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